quarta-feira, 10 de junho de 2020

Resenha - O peso do pássaro morto - Aline Bei

Oi, beautymores!

Vocês já devem ter percebido que estou aqui com bastante frequência né? Estamos indo para terceira semana. Outro detalhe, até agora só indiquei autores brasileiros né? Tentarei indicar no máximo possíveis leituras nacionais, isso não é uma regra, até porque consumo vários autores de outros países também. Enfim, só esses recadinhos iniciais e vamos para a resenha da semana.

Confesso que pensei muito sobre qual livro indicar, mas lembrei de um debate que escutei em um podcast sobre o “ O peso do pássaro morto” e resolvi que esse seria o escolhido dessa semana, inclusive, nem se preocupem, no final do texto vou colocar o link para o episódio do podcast. Sim, sim, eu consumo muito podcasts!

                                    

 

Enfim, logo na orelha do livro somos questionados com a seguinte pergunta: Quantas perdas cabem na vida de uma mulher? Vocês já passaram para pensar sobre isso? Quantas e quais dores vocês ainda carregam em si? Acho que o livro trás muito disso, das dores que a personagem guarda somente para si e como isso vai moldando sua vida.

A narrativa conta a evolução da personagem desde os seus 8 anos até os seus 52 anos, conseguimos perceber como a autora Aline Bei consegue realmente transmitir sobre esse crescimento da sua personagem, vemos que por meio das escolhas das palavras e da narrativa parece que de fato estávamos vendo ela crescer e apesar de tantas dores que essa mulher carrega a leitura é super fluída, quando você ver acabou o livro!

Mas como eu disse, os temas não são tão fáceis de lidar, fala de luto, de ser mãe, de ser mulher também, de como é ser e existir nesse mundo de certa forma também. Confesso que é bem difícil falar sobre esse livro sem querer dar todos os spoilers, mas continuarei tentando.

Então, parece que o livro nos ensina muito como é viver a vida apenas guardando e reagindo aos eventos da vida, parece que a personagem não conseguiu viver de fato, que as dores e os pesos que ela guardava a fizeram se perder de si. Aí fiquei até me perguntando como às vezes também somos assim né? Carregamos nossas dores somente para si, por mais que existir é ser sozinho, precisamos lembrar que existir é coletivo. Para quem queremos existir e o quais motivos fazem nos querer continuar existindo? Lembro que uma das primeiras frases que tem no livro Peles negras, Mascarás Brancas do Fanon, ele quando tá falando sobre a linguagem como forma de dominação diz que falar é existir absolutamente para o outro. Claro que ele tá falando em um contexto de opressão onde a língua pode ser também uma forma de colonização, mas quando terminei o livro da resenha de hoje, me questionei a personagem existiu para quem?

Ela aguentou muito coisa só, não falou, levou consigo as suas dores e nos fazer refletir mesmo o quanto de dor uma mulher pode guardar e aguentar.

Vou deixar um trechinho aqui que me marcou muito no livro:“ - o que é morrer? Ela fritando o bife pro almoço. – o bife. É morrer, porque morrer é não poder mais escolher o que farão com sua carne. Quando estamos vivos, muitas vezes também não escolhemos. Mas tentamos”

Me pergunto quando a nossa personagem deixou de tentar ou se alguma vez ela tentou de verdade viver ou foi só reagindo a tudo o que foi acontecendo. O que fiquei questionando e refletindo após o termino da leitura foi: precisamos falar, precisamos sentir, precisamos ser nós! E isso vai além de descobrir de fato quem somos, mas sim do que queremos deixar de ser. Qual a nossa voz e o que ela reverbera. Se estamos vivos, precisamos poder escolher ainda que existir seja todas as contradições possíveis dentro de toda a loucura que estamos vivendo.

O link do podcast: https://poenaestante.com.br/2020/02/28/o-peso-do-passaro-morto-aline-bei/

Beijos e cheiro grande,

Nathy Pinto. 

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